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sexta-feira, 26 de maio de 2023

Emprego da riqueza (III)

Sendo o homem o depositário, o administrador dos bens que Deus lhe pôs nas mãos, contas severas lhe serão pedidas do emprego que lhes haja ele dado, em virtude do seu livre-arbítrio. O mau uso consiste em os aplicar exclusivamente na sua satisfação pessoal; bom é o uso, ao contrário, todas as vezes que deles resulta um bem qualquer para outrem. O merecimento de cada um está na proporção do sacrifício que se impõe a si mesmo. A beneficência é apenas um modo de empregar-se a riqueza; ela dá alívio à miséria presente; aplaca a fome, preserva do frio e proporciona abrigo ao que não o tem. Dever, porém, igualmente imperioso e meritório é o de prevenir a miséria. Tal, sobretudo, a missão das grandes fortunas, missão a ser cumprida mediante os trabalhos de todo gênero que com elas se podem executar. Nem, pelo fato de tirarem desses trabalhos legítimo proveito os que assim as empregam, deixaria de existir o bem resultante delas, porquanto o trabalho desenvolve a inteligência e exalça a dignidade do homem, facultando-lhe dizer, altivo, que ganha o pão que come, enquanto a esmola humilha e degrada. A riqueza concentrada em uma mão deve ser qual fonte de água viva que espalha a fecundidade e o bem-estar ao seu derredor. Ó vós, ricos, que a empregardes segundo as vistas do Senhor! O vosso coração será o primeiro a dessedentar-se nessa fonte benfazeja; já nesta existência fruireis os inefáveis gozos da alma, em vez dos gozos materiais do egoísta, que produzem no coração o vazio. Vossos nomes serão benditos na Terra e, quando a deixardes, o soberano Senhor vos dirá, como na parábola dos talentos: “Bom e fiel servo, entra na alegria do teu Senhor.” Nessa parábola, o servidor que enterrou o dinheiro que lhe fora confiado é a representação dos avarentos, em cujas mãos se conserva improdutiva a riqueza. Se, entretanto, Jesus fala principalmente das esmolas, é que naquele tempo e no país em que ele vivia não se conheciam os trabalhos que as artes e a indústria criaram depois e nas quais as riquezas podem ser aplicadas utilmente para o bem geral. A todos os que podem dar, pouco ou muito, direi, pois: dai esmola quando for preciso; mas, tanto quanto possível, convertei-a em salário, a fim de que aquele que a receba não se envergonhe dela. — Fénelon. (Argel, 1860.)

(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVI, item 13.) 

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